“ O que nesta fabrica se chama propriamente fundo, he somente aquelle espaço que se contem antre as almogamas; e ao meyo delle chamao o plao, que quer dizer plano: por que assi o he elle, que nao aleuanta para parte algua: e tambem se chama hu ponto, por que não tem deferença de medidas. Toda a largura, e altura do fundo aly he ygual, e os gramminhos aly nao fazem comparticão algua.” Fernando Oliveira, Livro da Fábrica das Naus, fol. 87.
“ O mays largo do fundo he no meyo delle, onde chamao o plao, ou hum ponto. E aly ha de ter de largo, pollo menos, hu terço da boca da sua nao, e ao mays, a metade. De maneyra, que se a boca teuer seys rumos de largo, o fundo deue ter de dous para tres, não mays, nem menos; não mays da metade, nem menos da terça parte. Antre estes dous termos, pode o bo official escolher o que lhe parecer milhor, segundo bo juyzo, conformando se com o tamanho do nauio e forma da uela…” Fernando Oliveira, Livro da Fábrica das Naus, fols. 100-101.“Premeyro assentão as cauernas de hu ponto todas: por que nenhua dellas entra no gramminho.” Fernando Oliveira, Livro da Fábrica das Naus, fol. 97.
“Digo que se chamão cauernas, todas as que ficão antre as almo gamas, ainda que nao sejão de hum ponto; mas são todauia aliueladas, e yguaes em sy mesmas: por que se não aleuantão nem dobrão, cada hua em sy mesma. As que estão no plão antes que se os graminhos comecem aleuantar, se chamão cauernas mestras. Estas em nauios pequenos de quinze rumos para bayxo não deuem ser mays que hua soo; e de quinze atee dezoyto duas; e dahy para cima tres, e não mays por grandes que sejão: por que sendo mays, farão os nauios mays longos do que requere este genero, ou ficaraa o delgado muyto curto, e o enchimento munto largo…” Fernando Oliveira, Livro da Fábrica das Naus, fols. 87-88.
“ Sobe o gramminho da popa ordinariamente, a duodecima parte da sua longura, que de dezoyto pares, uem a ser hum par e meyo; e o de proa sobe menos a metade, ou terça, que he quasi hum soo par.” Fernando Oliveira, Livro da Fábrica das Naus, fol.90.
“Aleuantar o fundo, e recolhe lo polla ordem destes gramminhos, ordenarão os homens entendidos na arte da nauegaçã, a fim de formar os nauios em figura oual: a qual acharão ser apta para bem nauegar…” Fernando Oliveira, Livro da Fábrica das Naus, fol. 90.
“A parte mais interessante do texto de Fernando Oliveira diz respeito ao desenho do fundo destes navios. A partir da caverna mestra – por definição a mais larga de todas as cavernas do navio – o fundo levantava e estreitava para a vante e para a ré. A forma como o fundo estreitava e levantava era definida sem necessidade de desenhos, a partir de moldes básicos com a forma da caverna mestra, e usando escalas muito simples chamadas graminhos. Este método evitava o difícil processo de passar as formas das cavernas dos desenhos à escala para os moldes em tamanho natural. O resto do casco era definido “a olho” com o auxílio de amadouras que, (…) eram ripas de madeira que se pregavam sobre as cavernas centrais, correndo longitudinalmente de poste a poste”. Filipe Vieira de Castro, A Nau de Portugal. Os navios da conquista do Império do Oriente 1498-1650, Lisboa, Prefácio, 2003, p.50.
“O primeiro aspecto a referir a propósito das cavernas deste fragmento de casco é a sua majestosa dimensão…” ALVES, F., CASTRO, F., RODRIGUES, P., GARCIA, C., MIGUEL A., "Arqueologia de um Naufrágio", Nossa Senhora dos Mártires: A última viagem, Lisboa, Verbo / EXPO 98, 1998, pp.202-203.
“Chamão se almogamas, as cauernas dos cabos do fundo, dhua parte, e da outra, digo, da popa, e da proa. E hão de ser tantas cauernas de cada parte destas, quantos rumos tem a quilha toda. Se a quilha toda teuer dezoyto rumos, cada gramminho destes teraa dezoyto cauernas, e nao mays, mas antes menos, se parecer bem ao mestre, para bem de acrecentar o delgado, e desabafar o enchimento.” Fernando Oliveira, Livro da Fábrica das Naus, fols. 89-90.